
Imagem: Deus julga Adão, de Blake
Haviam transcorrido só três anos da nova administração político-administrativa na Cuba revolucionária, onde supostamente, acreditávamos que todos seriam iguais. Quando em 1978 nasceu Luis Alfonso Montero no município especial de Isla de la Juventud, que se pergunta uma vez ou outra porque substituíram o nome da antiga Isla de Pinos, reconhecida pelos cubanos nas memórias do Apóstolo, e onde José Martí sofreu os rigores do presídio político, como outros patriotas cubanos.
Alfonso Montero, com seus 29 anos de idade completos, diverge de qualquer razão, ele continua amando seu torrão Isla de Pinos. Este rapaz de aparência triste, ainda que de caráter jovial, lembra que sua mãe biológica o abandonou quando tinha 4 anos e seu pai nessa época, já estava na prisão.
Como quase sempre acontece os avós paternos se encarregaram da custódia do menino. Os velhos em seu afã protetor eram indulgentes com o menino em cada sujeira, e isto foi fatal para o menor. No horário das aulas, Luis se ausentava uma vez ou outra. Entretinha-se furtando pombos-correio, depois roubando bicicletas e cavalos.
Revela que cavalgava eqüinos pelos campos da Ilha, desfrutava a paisagem, menosprezava o dano que ele mesmo se causava. Aos onze anos estudou numa escola de conduta de sua localidade.
Argumenta que longe de reeducar-se, notou que pouco a pouco se ia convertendo num monstro humano. Quando completou treze anos, seus amigos, maiores que ele, o seduziram a fumar maconha. Para um imitador como Montero, fascinado pelo inédito, fumar a droga foi um acontecimento prazeroso.
Aos 16 anos foi detido por uma briga com a polícia, o condenaram a três anos de prisão por desacato e desobediência. Ingressou no Combinado del Este, prisão nos arredores de Havana, sendo quase um menino. Viu-se, sem imaginá-lo, no maior cárcere do país, com capacidade para mais de 6 mil prisioneiros, também considerada como uma das penitenciárias de maior segurança e rigor.
Imediatamente Luis Alfonso Montero envolveu-se numa e noutra causa, desde tentativa de assassinato, até desfiguração de rosto. Já nunca mais seria livre outra vez. Ao menos da justiça. Montero é dos que pensam que na prisão tem-se que ser "valente e violento", mais se entras muito jovem, pois do contrário "serias comida dos numerosos bocas de fogo e de algum sodomita que te converte em seu amante".
Em meados de junho de 2004, quando tomava sol junto a outros presos no pátio do presídio de Quivicán, aproveitou um lapso de um funcionário da carceragem e escapou num recipiente de lixo convertendo-se em fugitivo muito procurado.
Não quis se entregar apesar dos rogos da sua mãe, que nessa época tinha contato com ele, era muito tarde para confiar nela. É curioso, talvez, ao morrerem os avós da criança, a mãe teve crise de consciência e começou a ocupar-se de Montero. Demasiado tarde.
Luis Alfonso cometeu um sem número de crimes por toda Cuba. Viajava de uma ponta a outra. Do ocidente ao oriente. Se alguém lhe perguntava o nome dava uma identidade falsa. Essa patranha escutou um dia na prisão e repetiu na vida real.
Em 7 de maio de 2008 terminou a aventura de fugitivo para este jovem desencaminhado. Foi surpreendido pela polícia na província de Ciego de Ávila, numa bicitaxi roubada na periferia do terminal de ônibus.
Foi acusado de roubo com violência e intimidação às pessoas, passou uma semana no departamento de investigações policiais da província avileña, confessou sua falsa identidade, além de um rosário de delitos cometidos durante sua fuga.
Regressou ao mundo que tanto odiava, porém onde com sua conduta brutal sempre fazia cúmplices ao piscar de olhos: o cárcere. Mas Luis Alfonso tinha um plano tenebroso. Durante a fuga conheceu um homossexual na província de Matanzas, doente de Aids, com o qual manteve relações sexuais. Fê-lo pensando sempre em contrair a doença e assim ir parar numa prisão para doentes de AIDS, onde as condições de vida são melhores que nos duros cárceres do resto da ilha. Ainda que a doença não haja sido descoberta nele, fizeram-lhe várias provas sorológicas. Este infeliz jovem não conhece as devastadoras seqüelas da SIDA. Oxalá que o fatídico contato sexual não o haja contagiado.
Aqui me contam os presos que Luis Alfonso Montero não é um caso único. Outros preferem contrair tuberculose, porque são isolados e a alimentação é menos putrefata. Só uma pessoa doente, entediada da vida nas difíceis prisões de nossa pátria, se inocula de HIV.
Montero não tem filhos e não pensa tê-los. Faltam-lhe 10 anos de pena e uma ação pendente. Não acredita que volte a sair do cárcere. Vê seu futuro incerto e vazio. Odeia a revolução cubana com fúria. No seu corpo tem duas marcas antigovernamentais “Contra o comunismo até a morte” e “Eu cago para o mundo comunista”. Sua vida está marcada desde o abandono de sua mãe. Acredita que já não merece viver. Não gosta deste mundo. Prefere morrer de Sida.
Pablo Pacheco. Prisão de Canaleta.
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