
Imagem: O Jardim, de Joan Miró.
É inegável que o ser humano é impredizivel, nos adaptamos ao meio em que vivemos e apesar das condições difíceis da prisão sentia saudades com desolação da galeria 43. Depois de cinco dias de convalescença no Hospital Provincial Antonio Luaces Iraola da capital Avileña, por apresentar sintomas da pandemia H1N1, a qual acomete os povos e principalmente os lugares superlotados como podem ser as prisões.
O fato é que minha alegria multiplicou-se quando o doutor Arias deu minha alta médica. Imaginei-me com meus companheiros de infortúnio relatando temas diversos, além de dar sempre um conselho sadio à qualquer destes homens ávidos por compreensão.
Fiquei desde as dez da manhã esperando pelo carro de transporte de prisioneiros que me levaria de regresso à prisão; o funcionário da sala de ordem interna da sala de condenados realizou várias chamadas telefônicas à penitenciária de canaleta, explicando aos militares da guarda que por me encontrar de alta médica não me dariam nem medicamentos nem alimentos, eles prometeram me pegar o mais rápido possível.
Descrever meu desespero pela demora é impossível, em relação ao tempo tenho alma de inglês. Só depois das cinco da tarde foi que chegou o chefe dos transportes, um militar, que pelo meu desespero não pude perceber a patente. Sei que seu sobrenome é Tejeda, o curioso é que veio com muita pressa, porém eu estava curado do espanto, não lhe fiz muito caso.
Para o cúmulo da loucura no elevador do hospital, que tem cerca de tres metros de comprimento por um e meio de largura, entramos seis pessoas, meus pertences e uma maca com um morto. Senti pena da senhora que chorava a perda do seu ser querido e ainda agora não compreendo a falta de tato de Tejeda por não esperar um pouco e irmos depois com mais comodidade e sem nenhum defunto. Além disso, sem escutar as reprovações da mulher magoada.
No trajeto para o centro penitenciário, o chofer chamado Machete, caiu em todos os buracos existentes no caminho, foi como se a jaula tivesse um imã para os vazios.
Ao entrar na penitenciária pude sentir o afeto que muitos réus sentem por mim, em especial por ser um preso político e de consciência. Também me deleitei com um abraço sincero do meu companheiro de causa Pedro Argüelles Morán, que transbordava de alegria ao me ver recuperado. Pude mesmo assim, graças a minha ousadia, saudar o preso político e de consciência, e também do grupo dos 75, Adolfo Fernández Saínz. Ao entrar na minha galeria todos me abraçavam com euforia, sentia-me o homem mais ditoso da terra: senti-me querido.
Não posso finalizar sem dizer que algum irresponsável não fez minha dieta e tive que conformar-me com um pão e "tortilla" (prato típico da cozinha mexicana) que um cozinheiro fez para mim e um refresco que eu mesmo preparei. Agora, de novo na galeria 43, faço o que mais gosto: escrever o que sinto e posso. A H1N1 já é história para mim.
Pablo Pacheco, prisão de Canaleta, Ciego de Ávila.
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