
Num feito inédito do jornalismo contemporâneo cubano, um presidente dos Estados Unidos respondeu várias perguntas da blogueira Yoani Sánchez. O questionário à Barack Obama é interessante e muito inteligente, da parte desta garota que tem pago a glória com têmpora e dignidade, além de golpes e arranhões, inevitáveis para quem decide não aceitar grilhões no pensamento.
Ela nem sequer se sente opositora ao regime de Havana. Já manifestou-o varias vezes. Talvez sua inocência política não lhe deixe ver que aos tentáculos do autoritarismo não importa nada sua condição de mulher. Muitos colegas me tem lido as respostas de Obama. Na realidade estão a altura do presidente da nação mais poderosa do planeta. Demonstram que o uso da força por parte dos Estados Unidos contra Cuba, persiste somente no cérebro da cúpula governante desta pátria desgastada econômicamente e sem ânimo para outras guerras, depois das que nos envolvemos décadas atrás - na África.
É possível que este seja o momento propício para uma aproximação entre Cuba e os Estados Unidos. É uma falácia que estes dois paises sejam inimigos históricos, os laços culturais e familiares demonstram muito bem sua proximidade. Sem esquecer que a maior parte de nossa diáspora reside no estado da Flórida, onde triunfou política e econômicamente, ajudando com um extraordinário envio de remessas os cubanos da Ilha.
Obama ao responder à Yoani, aposta num diálogo com o atual presidente Raúl Castro, sem descartar o exílio e com certeza tendo em conta os que sofremos prisão, perseguição e que representamos a sociedade civil emergente. Não é a primeira vez que Obama convida ao diálogo. No meu entender sempre recebe como resposta a mesma retórica. Esclareço, o pensamento filosófico de Bismarck diz que "a política é a arte do possível". Não coloco em julgamento semelhante reflexão, porém são cinquenta anos.
Assim mesmo Yoani toca num tema que além de contradições, provoca divisões entre os daqui e os de lá: o embargo. Tão famoso como o prêmio Nobel. É um caso único na história universal ou é possível que assim eu o encare, de tanto ouvir sempre a mesma frase. Porém é certo que inimigos acérrimos dos Estados Unidos no passado - não vão se comportar como irmãos hoje, porém tampouco pedir as cabeças (um do outro) - conseguiram reestabelecer relações com essa potência mundial. Em alguma ocasião lí algo da Madre Teresa de Calcutá "a justiça sem amor torna-se dura, a inteligência sem amor torna-se cruel".
Por último - e com uma astúcia descomunal - Yoani interpela Barack Obama sobre uma possível visita à Ilha. Ele, nem tacanho nem negligente, coloca o ônibus dos direitos de todos os cubanos como marco para sua futura viagem. Felicidades Presidente, para mim esta é a mais eficaz das sete perguntas que lhe fizeram.
Vejam se neste mundo louco alguém me leu as demandas que Yoani Sánchez fez ao presidente Raúl Castro e que ele ainda não respondeu. De certo tampouco o fará.
Pablo Pacheco, prisioneiro de consciência, prisão de Canaleta, Ciego de Ávila, Cuba.
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