sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Frente ao paredón (3)


Imagem: Fogo azul - Magdalena Salamanca

Faz algum tempo um amigo me disse: "-Este é um país, Cuba, onde só se pode viver louco ou bêbado". Olhei-o atônito e meio perplexo. Disse-lhe: "- Mas é que não bebo...", e me respondeu: "Por acaso acreditas que estás mentalmente são?", não pude lhe responder.

É provável que você pense como são pouco sensatas algumas das verdades que vivencio diariamente no meu bairro ou nos comentários da esquina. Lembro Raúl Rivero, seus artigos, seus comentários, com aquela pergunta que me fez sempre: Qual razão o levou à isso quando digo: "Existem delatores em todas as partes do mundo, delatores, não obstante buscas entre teus irmãos quem te defende e persegue um futuro melhor para Cuba?".

Posteriormente caiu em minhas mãos de leitor ávido o livro intitulado "A grande trapaça" ou "A grande mentira de um velho lutador" e uma grande luz abriu-se na minha cabeça. Um dos métodos de luta do comunismo é o descrédito aos seus opositores, a calúnia é um dos eixos principais. Como sofria Andréi Sajárov descartado num dos rincões, sofrendo a ignomínia de ser um dos agentes da famosa "Checá", ou o próprio Raúl, membro da Segurança do estado, polícia política. Hoje, mais do que nunca, consigo compreender; Andréi ontem e Raúl hoje.

Quantas tristezas eles sentiriam ao se verem como a mentira encarnada, quem sabe dentro de sua própria família ou no círculo de suas amizades. Ver-se preso num círculo entre dois fogos, bem como envolto em muito óleo girando de formas diferentes. Quanto a Andréi só o tempo e a morte fizeram que saísse a sujeira que pesava sobre seu corpo. No caso de Raúl Rivero, as próprias hordas castristas tomaram a tarefa de limpá-lo; é prisioneiro da primavera negra em Cuba e todos sabemos o objetivo do governo com a prisão dos 75: nada mais do que a permuta pelos cinco espiões. Rivero e Sajárov já são parte dessa história bestial e macabra. O primeiro vive no exílio forçado e o segundo já pertence a Deus, porém muitos ainda ficamos nesta verde e grande ilha e ainda estamos em frente ao paredão.

Félix Navarro, prisioneiro de consciência. texto ditado por telefone da prisão provincial de Ciego de Ávila, Cuba.



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