sábado, 12 de junho de 2010

Com que Direito?

É tarde, muito tarde da noite. Apenas dois dos meus companheiros de infortúnio se mantêm despertos aqui na galeria 43 do destacamento 3, na prisão provincial de Canaleta em Ciego de Ávila, onde as autoridades deste país, que tanto amo e devo, me mantem recluso por motivo de consciência.

Esta noite ficou impossivel dormir sem escrever estas linhas que respondem absolutamente a minha percepção de vida relacionada com Cuba e todos os cubanos. Quando falo neste termos renuncio a palavras ôcas ou a retórica acostumadamente intolerante de alguns que se crêem donos absolutos de uma verdade inexistente em ambas as margens de Havana e da Florida. Dissentir é um direito, criticar também, porém nem um nem outro é sinônimo de atacar. Nunca duvidei que se possa unir com uma ponte que vá além do trânsito de automóveis. Falo da união de culturas similares e diferentes por sua vez, arraigadas a questões relacionadas com o modo de vida do exílio e nós, porém todos cubanos.

Na base da boa vontade aplaudo o cardeal Jaime Ortega Alamino e os bispos de Havana em suas gestões a favor das Damas de Branco e os presos políticos e de consciência; tem surgido critérios divergentes o que considero normal até certo ponto, devido as características naturais de nós, cubanos, com uma diversidade de culturas arraigadas ao caráter de um e outro. Agora bem, onde se enraiza o sacrilégio das mais de trinta mulheres aparentadas com os homens da causa dos 75 que pedem, com todo o direito, o recesso por umas semanas das também valorosas Damas de Apoio nos desfiles pelas ruas da capital cubana.

Espero que ninguém, com um mínimo de raciocício crítico, critique o proceder desta trintena de fêmeas que simplesmente discrepam das líderes principais do grupo de mulheres que vestem branco impulsionando a paz e as quais, todos os presos políticos e de consciência cubanos, respeitamos e admiramos. Nadar fora d`água é tão fácil como tomar uma coca-cola em pleno verão, o mesmo em Varadero e em Miami Beach. Por acaso os quase 90 meses, uns 2700 dias não significam algo para os valentes defensores da liberdade atrás de um microfone, em qualquer emissora de rádio na Florida ou Havana? Sim, respeitemos o trabalho, a dor, o sofrimento e outras coisas mais de nossa família. E se não pensam da mesma forma, não as convertam necessariamente em inimigas. A isto se agrega o testemunho quase extraterrestre dos presos políticos e de consciência.

Chegamos a um ponto sem volta no futuro desta nação. Outorgar um voto de confiança à Jaime Ortega Alamino, em nome da igreja católica cubana, é um sinal de inteligência, tolerância e, sobretudo, significa a esperança de quem levamos a cruz maior, com muito orgulho e dignidade.

Também está latente um dado importantíssimo na hora de ser objetivo. Nunca antes nos últimos 50 anos o governo pediu ajuda aos católicos para fazer pública a necessidade de eliminar um conflito interno com o presídio político e o protagonismo das Damas de Branco, que resultou em críticas da comunidade nacional e internacional, mesmo que a primeira não se desprenda do medo que muitos cubanos levam dentro.

Estou disposto ao diálogo dentro e fora do meu país, porém se isto implica em ataque, ódio e difamação é melhor não perder tempo, pois é preferivel ter ouvidos surdos à porcaria que nos têm obrigado por mais de cinco décadas.

Pablo Pacheco Ávila.









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Um comentário:

  1. Força interior e muita esperança!Sua batalha é de todos os amantes da liberdade.Irei divulgar seus textos em meu blog,na intenção de contribuir para que todos conheçam sua realidade.Esperando que o povo brasileiro não caia na armadilha do falso democrata Lula e seus sequazes.Um abraço!

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