quarta-feira, 2 de junho de 2010

Cuba necessita de mudanças reais



As recentes declarações do cardeal Jaime Ortega Alamino, representante máximo do Vaticano em Cuba motivaram comentários díspares em toda ilha, inclusive além de nossas fronteiras. Passadas 72 horas da entrevista de Jaime Ortega Alamino, o governo cubano mantem um total silêncio a respeito. A cúpula do poder tem 2 opções, a mais factivel e útil seria aceitar a mensagem e trabalhar na base de resultados positivos para o bem de todos os cubanos ou arremeter com intolerância desenfreada contra a igreja católica.

Não será a primeira nem a última ocasião em que as autoridades de Havana usam uma linguagem disparatada para defender o indefensável. Noite após noite me pergunto: Pode ser possível tanta cegueira política? Penso que até os mais incondicionais do regime desejam um giro de 180 graus nas coisas. A nação cubana precisa de mudanças reais, não cosméticas, como as realizados pelo atual presidente, o general de exército Raúl Castro Ruz. A convivência atual é insustentável; aí se encontra o pior perigo para a nossa sociedade, esgotada por sacrifícios e pela mesma retórica, além das constantes necessidades que afetam a quase totalidade do povo.

A partir da visita de sua santidade João Paulo II em 1998 a igreja católica ganhou terreno; na atualidade goza de uma posição vantajosa e, possivelmente, fundamental para o destino deste país. Mesmo assim há que se destacar que o balanço atual entre o governo e a igreja católica é bem equilibrado. O primeiro desfruta do poder, a segunda alimenta a fé e a alma entre todos os cubanos. Não é menos certo que outras religiões conseguiram um espaço, conquistando o coração dos mais despossuídos, fator essencial na hora da mudança.

Em muitas ocasiões tenho ouvido que a igreja católica cubana tem sido testemunha silenciosa de atos aberrantes que põem em julgamento o verdadeiro poder dos católicos dentro da sociedade. Não julgo nenhuma religião; essa tarefa é divina, porém não compartilho o critério, as vezes mal intencionado e possivelmente ordenado pela polícia política contra a igreja católica cubana. É certo que o desmoronamento do sistem comunista excludente na Europa do Leste contou com o respaldo dos católicos, especialmente na Polonia. O movimento de solidariedade foi o pilar junto com a igreja católica das transformações nesse país. Não desconheço as condições e idiossincrasias do país europeu com relação a Cuba.

Diferentemente da administração comunista cubana, a igreja católica tem publicado em diversos meios de comunicação de sua responsabilidade o pacto internacional de direitos econômicos, sociais e culturais de que Cuba participa. Publicações católicas também se referem a necessidade do bem comum, a pena de morte, a crise econômica dentro do país e a outros temas que são ofendidos frente a perda de valores dos últimos anos, especialmente desde a mensagem governamental do período especial.

Mais do que palavras, a igreja católica pode servir de ponte para a reconciliação. Longe do governo tomar as palavras do cardel Jaime Ortega Alamino como críticas, deve tomar consciência da realidade que carcome nossas ânsias de liberdade e independência. Os últimos acontecimentos demonstram uma raiva diabólica contra as Damas de Branco que deve cessar. Olhemos o futuro com otimismo. Se Cuba mantiver o rumo que nos impôs um sistema de governo, pode levar-nos à uma catástrofe dificil de reverter. Deve-se atuar com cordura, consequencia e muita responsabilidade nos tempos que correm. Quem mais precisa é a terra que temos por pátria.

Pablo Pacheco Ávila, prisioneiro de consciência.

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