
Imagem: Salvador Dalí
Desde muito cedo o guarda anunciou que preparássemos nossos pertences pois seriam verificados. Além disso a direção da penitenciária informaria novas medidas disciplinares. Todos pensamos que a verificação dos pertences era pela manhã. Porém para nossa surpresa nos desceram as 11:25 da manhã com um sol terrivel e sem podermos nos cubrir, imediatamente nos agruparam, pegou o microfone o segundo chefe da penitenciária o admnistrador Landis.
Este nos disse que tiveram que nos descer a esta hora porque nossa companhia era a maior da prisão. Para nosso castigo. Também assinalou que a partir de 8 de junho só teríamos direito ao telefone de 8 da manhã às 5 da tarde, e proibia-se terminantemente as obras de artesanato pelo elevado número de brigas que isso ocasionava na penitenciária.
Em seguida levantei minha mão para reclamar do horário telefônico, e apenas o oficial terminou de falar me chamou para o escritório de ordem interna. Alí lhe expliquei que o ex-ministro de relações exteriores Felipe Pérez Roque, manifestou numa conferência de imprensa celebrada no segundo semestre de 2003 que os presos da causa dos 75 teríamos direito a 120 minutos mensais de telefone. E agora com o novo horário este direito seria violado.
Assim mesmo lhe expliquei que num informe do governo cubano sobre o tema dos direitos humanos, ratificaram o exposto pelo chanceler. O admnistrador Landis me assegurou que a partir de 8 de junho seriam aumentados os telefones nas galerias e se poderia falar todos os dias, não cada 3 como até agora. Depois do pequeno diálogo, desci e juntei-me aos mais de 200 presos tomando o inevitável sol.
Passada uma hora mencionaram meu nome e subi onde se encontrava a comitiva. Atendeu-me uma oficial, muito amavel, recolheu a colcha de dormir, olhou o colchão e duas mudas de uniforme cinzento com uma lista lateral, com que se vestem os presos da ilha. Isso foi tudo. Quase duas horas debaixo do sol do meio dia para anunciar as efêmeras medidas e verificar o uniforme, além de recolher uma colcha.
Certamente, do sublime ao ridículo há só um passo. Como também da humilhação à tortura há um degrau. O mais triste da história foi quando abriram a porta de entrada da penitenciária, aquela massa humana assemelhava-se tanto a um rebanho brincando num estábulo, que sentí pena pelos meus companheiros de infortúnio. Porém os compreendí.
Ansiavam refrescar o corpo e descansar do sol irritante. Já nas galerias percebemos a exigência realizada, assim mesmo, um tremendo obscurantismo. Em seguida começou um murmúrio generalizado e alguns me perguntaram "Político, algo deve estar acontecendo, telefone até as 5 da tarde, nada de artesanato, os funcionários de segurança interna com equipamentos portáteis de comunicação novos, a reprogramação das visitas, sim político, algo está acontecendo".
Pablo Pacheco. Prisão de Canaleta
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