quinta-feira, 9 de julho de 2009

Crise, trapaças, tudo como numa birosca


Imagem: Estrella de Luis Trapaga

Os efeitos da crise global afetam boa parte da sociedade cubana. Não totalmente, pois creio que ninguém poderia assegurar que toda a população será fustigada sem clemência pelas dificuldades econômicas nos tempos que correm, podemos ver na prisão uma pequena parte da aristocracia da Cuba revolucionária, estes são chamados ladrões de colarinho branco.

Tirando estes reclusos e outros com familiares no estrangeiro, a crise é palpável neste mundo presidiário. Venho observando com interesse a diminuição nas bolsas que os familiares trazem para os reclusos cada 30 dias, sacrificando-se ao máximo.

O exemplo mais tangível foi a última visita ao pavilhão 3 da prisão provincial de Canaleta, em Ciego de Ávila. Antes, em cada encontro familiar, os presos saiam ou mandavam vender no corredor refrescos, sacos de leite em pó, pacotes de café, bolachas e outros tipos de alimentos.

Pois bem. Nesta última visita, repito, vi vender só um pacote de bolachas. A propósito da crise chegamos ao ponto do real e do excepcional, e não creio que seja diferente em outras prisões do país; e acontece que aumentaram as trapaças entre os presos, o que pode produzir problemas sérios.

Na minha galeria 43, têem vendido tubos de desodorantes preenchidos com um condom, frascos de água sem colônias, tubos de pasta de dentes vazios, pacotes de cigarros repletos com papéis em forma de cigarro e os mais diferentes objetos necessários à higiene e o consumo.

Para um péssimo observador, como é o meu caso, noto um tema obrigatório que encerra os diálogos dos presos: "irmãos a rua está dureza e agora estamos pior que na década de 90". Contudo são muito poucos os que têem interesse nas notícias, pois argumentam que é mais do mesmo.

Neste ponto acredito que a maior responsabilidade recai na imprensa oficial, por escrever o que uns poucos querem que o povo leia. Para finalizar este comentário, quero acrescentar que todos aqueles que hoje dissentimos do dogma oficial, compreendemos porque este país está há tantos anos em crise, uma crise que mais do que econômica, é principalmente de valores.

Minha maior satisfação é que faz 6 anos e 4 meses, fomos levados para a prisão por dizer e escrever o que o povo cubano está vivendo. E ainda que pareça que não, alegra-me os ínfimos espaços que permitem à imprensa oficiosa, pois é a brecha por onde podem afiançar a verdadeira liberdade. Isto significa que a prisão e gritar quando a maioria calava não tem sido em vão.



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