Sequestro da democracia

Imagem: Multiplicação dos Arcos de Yves Tanguy

O mundo ocidental amanheceu neste domingo indignado. Pelo menos foi o que percebi nas imagens da televisão a que tenho acesso, na minha condição de prisioneiro de consciência, e as que me acrescentaram por amar demasiado a democracia.

Não compreendo como é possível que no século 21 se vejam semelhantes vídeos, nos arquivos, de outros golpes de estado, pisoteando a vontade do povo. O que acontece em nossa América Latina? Por acaso é excessivo o poder que os militares ostentam nos processos democráticos de nossa região? Hoje, Manuel Zelaya Rosales, foi deposto de seu legítimo cargo de presidente de Honduras, amanhã pode ser outro.

De coração digo que nossa América está de luto e vou ser honesto com a minha consciência. Nem sequer apoio o sistema de governo de Zelaya, como tambem esclareço que não tenho nada contra o pensamento de esquerda, a terminologia agora foi destorcida porém nada posso fazer.Hoje vi pela televisão um povo odiando seus próprios filhos. Quanta dor e tristeza se sente! Esses rapazes soldados viveram assustados os momentos mais importantes, talvez, de suas vidas. E ao vê-los recordei meus primórdios quando estive no exército por obrigação: se a ordem de um superior não te honra, melhor não a cumprires. Graças a Deus que esse momento nunca chegou.

É possível que as organizações federais e até a ONU se reunam e tomem decisões, porém isso não mudará as coisas. Será preciso viver naqueles países que desfrutam da democracia com a espada de Damocles sempre sobre nossas cabeças? É uma pergunta difícil, porém muito prática se queremos avançar no caminho da liberdade.

Os inimigos de Zelaya podem manifestar contra ele qualquer verdade acusadora, porém a presença de militares no golpe lhes priva de razão e, se digo algo, feliz, é que até agora nenhum governo decente reconheceu Roberto Micheletti como novo presidente de Honduras. Peçamos a Deus pelo bem estar do povo hondurenho e solidarizo com meus colegas da imprensa que tiveram seus direitos pisoteados. O mais importante nestes momentos de tormenta política é sair da inconstitucionalidade democrática e respeitar a vontade do povo, alem de lembrar à cúpula militar que favorece o golpe que com seu procedimento macabro, mais o respaldo de forças internas tão poderosas e a vergonha que sentimos os que creem na liberdade e na honra, só conseguiram em Honduras um autêntico sequestro da democracia.

Pablo Pacheco, prisão de Canaleta, Ciego de Ávila.