sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O preço de ser um homem livre


Imagem: Tirada durante a Bienal de Havana

O mundo em que vivemos não pode ser visto como uma gota d`água num cristal. E menos ainda ser visto preto no branco. Se aspiramos ser justos com o próximo, necessáriamente devemos ver os matizes da vida. Então algo nos dirá que a sinceridade começa por nós mesmos, do contrário jamais encontraremos a justiça.

O universo de hoje globalizou-se invevitavelmente. Na minha opinião particular, para o bem da humanidade. Antes que as autoridades da Ilha me levassem à prisão por motivos de consciência, perguntava-me por vezes porque uns presos políticos podem denunciar a realidade das prisões cubanas e outros nem tanto.
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Agora que estou no lugar deles, encontrei a chave: nestes 6 anos e 4 meses de cativeiro muitos de nós denunciam sistematicamente as violações dos direitos humanos e, até onde tenho noção, dois dos meus irmãos puderam escrever suas memórias em cada um dos seus livros.

Com certeza nem todos temos a mesma capacidade intelectual. Se vamos ser objetivos e práticos temos que analizar a importância de escrever sobre a crueldade nos centros penitenciários de Cuba e não sermos uns comodistas de primeira classe e vermos a situação do ponto de vista o mais realista possível.

Creio que para criticar há que se ganhar o direito. Nem todas as prisões são iguais e nem por isto posso imaginar a comunidade internacional calcular que a situação em Cuba é a de um quase paraíso. Só nós, os presos políticos, especialmente os da causa dos 75, sabemos o que é viver, se é que se pode chamar de viver, em celas de isolamento e confinamento sem pegarmos sol durante 18 meses, visitas a cada 3 meses, pavilhões conjugais a cada 5. É dizer, temos sexo com nossas esposas duas vezes por ano.

Bolsas de 30 libras. Sem telefone. Duas assistências religiosas em quase dois anos. Suportando os gritos enlouquecidos dos condenados à morte. A isto, some-se, que ao irmos para os pavilhões aprendemos a viver na selvageria, junto a delinquentes conhecidos, violadores, pederastas, assassinos, enfim, o pior da sociedade cubana.

Estou certo que nenhum de nós será novamente o mesmo. E não será por debilidade. Passou o tempo e continuamos firmes como a rocha. Porém verdadeiramente nunca voltaremos já a ser os mesmos.

Agora tenho meu blog, que é de todos como sempre digo. Se por isto alguém acredita que os cárceres cubanos são o Olimpo, então que me perdoem: devem dar uma limpeza no seu cérebro. Há dias que escrevo a história de um preso comum com a úlcera estourando e meu rim sem me deixar sair da cama. Porém ainda assim continuo em frente. Sem saber se sairei livre deste sepulcro de homens vivos. Minha única esperança é saber que estou preso pelas minhas ideias e por querer ser um homem livre. Então vale a pena.

Pablo Pacheco, prisão de Canaleta.

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