
Não, não posso permitir que o sofrimento acumulado de setenta e sete meses atrás das grades, como prisioneiro de consciência na Cuba dos irmãos Castro Ruz, dêem sustento ao repúdio contra o concerto do cantor e compositor Juanes na minha pátria. Muito menos para que este seja vaiado por tal projeto. Pessoalmente aprovo sua presença, oxalá outros o imitarão. O regime não resistiria a essa mostra de civismo.
Sem dúvida, os músicos que acompanharão Juanes formaram-se em sociedades abertas, livres e democráticas, imediatamente perceberão aqui a face oposta dos seus povos de origem. Será fácil para eles comprovarem que chegaram numa sociedade militarizada, tanto por civis que vigiam como por uniformizados que reprimem. Verão hotéis onde os nativos não podem - praticamente - ter acesso ao desfrute de suas instalações pelos preços elevados numa moeda diferente da que recebem como salário. Comprovarão que em Cuba ninguém pode protestar públicamente para repudiar o fato de que uma parte da oposição permanece atrás das grades ou detidas em seus lares por turbas organizadas pelo próprio governo.
Sim, que venham e se me engano não será a primeira vez. A comprovada inteligência e atitude filantrópica de Juanes lhe permitirão discernir acertadamente que a ausência de liberdades palpáveis em cada espaço que se encontre com o cubano, não é um reflexo de sua lírica Camisa preta. Senão de uma alma negra que habita o interior de quem nos governou durante estes cinquenta anos. Seria lamentável que o laureado cantor e compositor colombiano desvie seu olhar, comungue com a atual gerontocracia que nos oprime. Ao chegar em Miami, se não quiser contar à mídia o que viu aqui, ao menos reze um pai nosso e uma ave maria - junto à sua família - pela dor, sofrimento e a falta de liberdades que é palpável em cada rincão da Ilha.
Félix Navarro, prisioneiro de consciência. Texto ditado por telefone da prisão provincial de Ciego de Ávila, Cuba.

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