domingo, 6 de setembro de 2009

Uma oportunidade exclusiva


Semanas atrás escrevi sobra a atuação de Juanes na capital cubana. Agora, estou convencido de que a apresentação de Juan Esteban Aristizabal e dos outros músicos acompanhantes constituirá um fabuloso e necessário espetáculo artístico na Praça da Revolução, antiga Praça Cívica José Martí. Acerca do denominado "Concerto pela Paz" surgiu uma grande diversidade de opiniões, é normal. O que vejo deslocadas são as imagens, manipuladas pela televisão cubana, de uma parte dos exilados de Miami quebrando os discos deste cantor colombiano.

Hoje estou na prisão por escrever o que me dita a consciência. Desejo para o futuro de Cuba o respeito à opinião alheia e não duvido que do mesmo modo pensem meus irmãos de causa, o grupo dos 75, outros presos políticos, aqueles que lutam - dia após dia - na rua pela democratização de Cuba e com certeza, a diáspora. Este país precisa de amor, reconciliação e é o que nós, os homens de boa vontade, damos noite e dia e vamos doar também amanhã. Noto que o governo da Ilha, inteligentemente, calou, tratando de levar o melhor pedaço dos ataques de ambas as partes. Não existe melhor estratégia para inimizar do que a do "divide e vencerás" e não podemos nos deixar cair numa armadilha que prejudica por sua vez o respeito à opinião alheia.

Quando Juanes e outros cantores deram um conserto para chamar a harmonia aos governos da Colombia, Equador e Venezuela, também surgiram detratores. Com certeza a apresentação terminou sendo um êxito absoluto. Não poderia ocorrer de outra maneira, pois a união de vozes como a de Carlos Vives, Juanes, Juan Fernando Velasco, El quisqueyano Juan Guerra e o venezuelano Ricardo Montaner é algo deleitoso, quase celestial. Os cubanos não vivemos no fim do mundo e merecemos a atuação deles e outros mais, incluindo cubanos que hoje estão no exílio porém que nunca deixaram de ser parte de nosso povo. Muitos deles pertencem ao que mais vale e brilha no mundo artístico a nível internacional.

Por outro lado, Juanes, Olga Tañon, Victor Manuel e os demais terão a oportunidade única de ver - com seus próprios olhos e sem que ninguém lhes conte - o estado de tensão em que aqui se vive. Perceberão o grau de militarização desta sociedade, mesmo nas ruas, praças, hotéis, discotecas e até em nossas belas praias. Se estes grandes da música não pedem a liberdade dos presos políticos nem entrevistam os líderes da oposição - por se considerarem apolíticos - só eles saberão se podem dormir tranquilos com sua consciência num hotel habanero, seguramente de cinco estrelas.

O povo quer vê-los atuar e com isso estou feliz. Vivo convencido que os exilados e uma boa parte dos cubanos radicados na Ilha gostariam que Juanes entrevistasse as valorosas Damas de Branco e dê seu apoio à dissidência. Eu espero que assim seja, Faz uns dias Bill Richardson esteve em Cuba e o povo, leia-se o cubano comum, nem soube. Não duvido de sua estratégia porém surpreende que nessas alturas, uma figura da estatura deste senador norteamericano siga a tônica de Michelle Bachelet, Cristina Fernández e outros mais. É uma posição triste e, por mais que estes políticos a miniminizem, é uma realidade. As autoridades de Havana sabem e se preocupam ainda que não o dêm a entender. Agora veremos que experiência terão Juanes e seus acompanhantes, ao menos os cubanos terão uma oportunidade exclusiva depois de tantos anos.

Bookmark and Share



Nenhum comentário:

Postar um comentário