terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Frente ao paredón (2)


Imagem: O poeta e o ouro - Miguel Menassa

Ainda ressoam nos ouvidos aquelas palavras de um longo e pesado discurso em meados de 1960:

"(...) Vamos criar um sistema de vigilância coletiva".

Um tipo de segurança estatal como as SS nazistas, um sistema de grupo coletivo onde tu vigiavas teu vizinho , o qual por sua vez, ou um outro, encarregava-se de te vigiar.

Muitos lembram, os daqui e os do exílio. Vinham vestidos de civil coletando informações; assim Antonio, um vizinho a mais, referia o que ele viu e suspeitava. Uma tarde em que devia ajudar em sua casa, não chegou, e seu vizinho percebeu. Antonio foi detido; mais tarde soube que aquele que chegava em sua casa, à quem devia informar, também havia sido detido. Antonio teve mais sorte, não o fusilaram e passou doze anos de sua vida entre sofrimentos e dor. Antonio tomou a decisão e partiu; não queria que seus filhos vivessem o que já não era mais outra coisa: rancor e ódio.

Os Comitês de Defesa da Revolução tornaram-se públicos e já se sabia quem eram os seus membros, e entre estas hordas não se suscitou o respeito. O terror se desandou entre eles, que fez de um povo aguerrido uma massa amorfa, de onde se sai com o simples objetivo de salvar-se e a família, ao diabo o humor.

Quanta dor sinto ao escutar que a Venezuela e o Equador vão pelo mesmo caminho. Choro ao pensar na divisão das próprias famílias, na perda desse valor humano que chamam de amizade, no esquecimento obrigatório das igrejas, e me parece ver seus governos perpetuarem-se no poder, pois à eles só interessam os próprios interêsses, promovendo com suor e lágrimas - não importa de quem - seu próprio ego. Riem-se como se tudo fosse uma grande comédia, não lhes importa, não, colocar seus povos em frente ao paredão.

Félix Navarro, prisioneiro de consciência. Texto ditado por telefone da prisão provincial de Ciego de Ávila, Cuba.

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