
Imagem: Latitudes da loucura - Manuel Menassa
Francisco Feijoo (Panchito), que reside na Avenida Martí # 87, Jobabo-Las Tunas, era um desses jovens vivazes com coeficiente intelectual maior do que o comum. Seus companheiros de classe na Universidade de Havana inclinavam-se ante ele, afastavam-se para deixá-lo passar e outros meio de brincadeira meio sérios, tiravam-lhe o chapéu. Simplesmente porque Panchito era o primero da sua classe e punha em duvida cada palavra dos seus professores, porque até a eles colocava em aperto.
Uma vez, sentado nos próprios degraus de Alma mater, atreveu-se a comentar junto aos que alí se reuniam: "Vivemos em plena escravidão". No dia seguinte foi detido e levado à Villa Marista. Um instrutor e capitão da Seguridad del Estado, chamado Ricardo, teve por tarefa interrogá-lo. A solidão da cela, os interrogatórios, os gritos, produziam no jovem o objetivo pretendido. Depois de vários dias com a comida contaminada por medicamentos para doentes mentais, seu estado físico decaiu e seu cérebro desestabilizou.
Foi levado `a Mazorra, hospital para dementes, e entre eletrochoques e novos medicamentos sofreu colapso. Começou a divagar: todos aqueles personagens de suas obras lidas, que uma vez haviam sido parte do seu acervo cultural, convertiam-se agora em realidade ante seus olhos. Com grande veemência declarava que havia visitado a lua na noite anterior, que Montesquieu era seu amigo pessoal ou que havia compartilhado a cela com o próprio autor de O príncipe ou com o manco de Lepanto.
Não havia nada mais a fazer. Panchito não era Francisco, somente um farrapo humano; podia dizer o que quisesse: Um Hamlet, um Quixote, pois ainda que dissesse a verdade, quem prestaria atenção? Ainda que dissesse a verdade, quem lhe seguiria? Porque niguém, absolutamente ninguém, faz caso do que um louco diz.
Hoje vaga pelas ruas de Jobabo, vestido de branco, perguntando a todos se estão lendo a obra que ele lê. Muitos o olham e riem, porém poucos, poucos sabem que também esteve em frente ao paredón.
Félix Navarro, prisioneiro de consciência. Texto ditado por telefone da prisão provincial de Ciego de Ávila, Cuba.
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