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Nestes últimos anos da minha vida em cativeiro. passei dias dificeis...muito dificeis diria eu, porém nenhum se compara a este 4 de janeiro.
Pela manhã o educador do pavilhão 3, onde vivo faz um ano, mandou me preparar para que fizesse um raio X de tórax. Devo assinalar que este tipo de radiografia é feita dentro desta prisão de Canaletas em Ciego de Ávila; a doutora Gisel que presta assistência médica aos cinco homens de periculosidade 2, diga-se: os da causa dos 75, indicou este exame para mim desde o dia primeiro passado, porém por isto ou aquilo, ainda não me haviam feito o exame.
Não sei porque pressagiava um desenlace adverso para mim. Ao chegar ao depósito da penitenciária o chefe do destacamento me pediu com decência extrema que pusesse minhas mãos nas costas para colocar as algemas. Com um impulso sobrenatural respondi com um NÃO rotundo. Não estou em desacordo em colocar as algemas, até agora o havia feito sem dificuldade; ocorre que devia descer escadas e um tropeço poderia desfigurar meu rosto. Tendo minhas mãos imobilizadas, impediria de me defender de um deslize nefasto.
O militar citado me fez voltar à galeria 43. Tratei de me comunicar com a doutora, que supostamente responde pela nossa saúde, o contato foi impossivel. Agora tudo depende do destino e da minha anatomia, pois estou há mais de 12 dias com um estado gripal severo...tive febre.
O que nunca passou pela minha cabeça é que o pior estava por vir. Na hora da telenovela fui buscar o mp4 que tenho para jogar jogos de habilidade mental, escutar um pouco de música e terminar a noite deleitando-me com as fotos da minha esposa e filho, as quais guardava com zelo excessivo na eficiente memória. Surpreendi-me ao perceber a ausência do equipamento dentro da almofada. Procurei com a ajuda de todos os homens da galeria; não duvido que entre os ajudantes haja um ladrão malévolo.
Meu sentimento por este fato é impossivel de descrever. Privaram-me da fotografia, é o que mais estranho. Ao amanhecer os que me prezam se dirigiram à toda a galeria; fizeram um chamado à reflexão para que me devolvessem o mp4.
Antes de finalizar esta crônica, digo que não afirmo nem descarto que o roubo fosse orquestrado pela polícia política, inclusive alguns presos insinuaram esta possibilidade. Não posso deixar de fora que qualquer presidário para fazer média com os serviços de inteligência e poder fazer o que lhe dê vontade na penitenciária, tenha se prestado à tão grosseira ação. De agora em diante devo ser mais desconfiado. Sofrerei ao não ter a cada noite as imagens da minha família.
Para compreender a repressão nos centros penitenciários de Cuba há que se saber que a direção máxima do país proibe que entrem nos cárceres: rádios, memórias, câmeras de vídeo e fotográficas, telefones celulares, DVD e tudo o que possa ser uma alternativa a televisão nacional. Existe uma regra digna de aplauso: informação é poder. Esta é a razão verdadeira para tantas proibições. Quem duvida que seja também a causa do roubo do meu mp4?
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