domingo, 28 de março de 2010

Todos temos a obrigação de responder a Cuba



Manuel Merello - O vôo da mulher prata

"Minha filha tem um yuma (americano)" - disse um preso à outro. Frases como esta começaram a ser escutadas na Maior das Antilhas quando do colapso do campo socialista na Europa do Leste. As autoridades nunca previram a realidade histórica de um sistema excludente por natureza. Os criadores do socialismo ou comunismo, ou como queiram chamá-lo, tinham em mente perpetuarem-se no poder ainda que nisso estivesse em jogo as liberdades fundamentais do ser humano.

A ex-União soviética se desintegrou e da noite para o dia deixou de ser a potência mundial para se converter num tigre de papel. Um pequeno sopro de ar desvaneceu a esperança dos iludidos incondicionais a Moscou. Esta situação do novo mundo geopolítico trouxe consequências irreversíveis para a sociedade cubana. Acostumados a receber de todos, ou quase todos, os paises pertencentes ao CAME (Conselho de Ajuda Mútua Econômica) os cubanos vivíamos o que considero um verdadeiro período especial, sem tantas penúrias.

Agora, analizando os acontecimentos, não posso assegurar que os tempos da bonança socialista voltem. Tampouco considero as últimas duas décadas de: "período especial", como as autoridades de Havana intitularam este tempo. O resultado do que hoje temos é o rosto de um sistema de governo incapaz de saciar as necessidades do cubano comum.

Nossa sociedade perdeu valores difíceis de recuperar. Não é segredo que jovens destes tempos preferem casar com um estrangeiro do que receber a identidade da União de Jovens Comunistas. Assim mesmo, e incrivelmente, a juventude prefere enfrentar a morte nas turbulentas águas do estreito da Flórida, em cima de uma balsa ou uma sofisticada lancha, pronta para o perigoso e degradante tráfico humano, do que enfrentar o aparato com sua polícia do pensamento, como diz meu colega e irmão de causa Miguel Galván Gutiérrez.

É certo que com o advento do novo milênio a sociedade cubana tomou consciência da nossa cruel realidade. São muitos os cubanos que perderam o medo a tanta dor e pouco a pouco somaram-se à dissidência. Todavia o número de jornalistas opositores, bibliotecários independentes, ativistas de direitos humanos ainda é inferior ao dos militantes do partido comunista de Cuba, porém na hora de fazer uma análise objetiva, o mais medíocre dos humanos compreende a necessidade urgente de mudar a situação atual por um modo de vida mais viável nos tempos que correm.

Sou partidário de que o problema de Cuba só compete aos cubanos e devemos resolvê-lo nós mesmos, porém não se pode esquecer o tristemente célebre Sul da África de Nelson Mandela. Graças a comunidade internacional aquele apartheid hoje é um cadaver da história.

O pior e mais triste de hoje é o status quo dos presos políticos. Vivemos em condições extremamente dificeis. A morte recente do prisioneiro de consciência Orlando Zapata Tamayo depois de uma prolongada greve de fome, chama poderamente a atenção. Porém o mais triste foi a atitude governamental tratando de tirar méritos do preso político, e o Ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Parrila proferir um discurso retórico no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, para fazer com que a comunidade internacional acreditasse na diatribe com segundas intenções sobre os presos políticos e a dissidência em geral.

Mesmo agora existem vários presos poíticos em greve de fome, além do jornalista independente em liberdade Guillermo Fariñas, o qual encontra-se há vários dias sem ingerir alimentos exigindo das autoridades a liberdade dos presos políticos e de consciência, muitos deles com doenças crônicas adquiridas na prisão.

A União Européia e os Estados Unidos aguardam por um gesto de boa vontade da nomenclatura no poder, porém Havana mantem-se insensível frente aos seus adversários políticos, desconhecendo que todos, absolutamente todos, temos a obrigação de responder a Cuba ainda que seja de pontos de vista diferentes.

Pablo Pacheco Ávila, prisioneiro de consciência.

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2 comentários:

  1. Creio que muitos brasileiros considerem o atual regime cubano uma ditadura. Porém não há no país uma tradição de interferir na política de outros países, por isso pouco fazemos para ajudar Cuba a ser um país democrático.

    A recente visita de Lula a Cuba permitiu a muitos ver que um ignorante na presidência de república não é algo desejável. O desprezo de Lula a greve de fome de Orlando Zapata Tamaio, pegou a todos de surpresa.

    Creio que o regime cubano teve no passado um maior apoio da sociedade brasileira pelos avanços na educação e na medicina.

    Porém com o nosso desenvolvimento sem a inflação elevada do passado, tais avanços que eram segundo alguns frutos somente de regimes socialistas, hoje também atingíveis em regimes capitalistas.

    O Plano Real é um plano capitalista que Lula seguiu e que permitiu o Brasil a voltar a ter o crescimento que tinha quando a época do regime militar de 1964.

    Ficamos surpresos ao ver que a super educação cubana nada ensina aos seus cidadão a sua constituição e suas leis.

    Nos parece que a sociedade cubana seja bem primitiva, tendo os irmãos Castro os únicos a dirigir do país.

    Percebemos que Raul Cstro afastou todas as autoridades cubanas que conversavam com outras autoridades de outros países.

    Cuba hoje parece um país bem isolado, dirigido por uma pessoas isolada que ao falar alguma coisa, surpreende pela sua vulgaridade.

    Desejo sorte a vocês, pois a América Latina pouco ajudará vocês.

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  2. concordo plenamente com o comentário acima.

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