sábado, 19 de junho de 2010

Cuidem-se


The Long Road - Chad Elliott

A política é a arte do possivel. razão pela qual decidí apoiar, desde o primeiro momento, o encontro entre o General de Exército Raúl Castro e o Cardeal Jaime Ortega Alamino. Este último apelou para a inteligência e a boa fé, intercedendo pelas Damas de Branco e os presos políticos e de consciência. O Arcebispo de Havana, representante máximo do Vaticano na Ilha, tem ignorado as críticas feitas de dentro e de fora do país. Em honra a verdade qualquer ataque a esta iniciativa poderia fazê-la terminar com resultados estéreis; sem a libertação dos presos políticos e de consciência, e isso Jaime Ortega sabe perfeitamente.

Seu compromisso com Cuba é uma ordem de Deus e nasce também de um forte chamado de sua própria consciência. Simpatizo com o Cardeal, não o nego. Confio plenamente em Ortega Alamino. Se ganho algumas críticas por isso, que sejam benvindas. Se me engano, reconheço e ponto. Além disso tenho esse direito e não vou renunciar a exercê-lo para satisfazer ninguém. Sempre tenho dito que primeiro devo ficar bem com a minha consciência e depois com a dos meus semelhantes. Com certeza sem prejudicar ou afetar meus princípios. Em política as vezes parece que se está muito longe de alcançar um objetivo e contudo o horizonte de sua solução está em frente aos nossos próprios narizes. Também é certo que nos momentos de maior fragilidade e tensão as metas com que sonhamos podem estar muito próximas.

Porém o translado de Antonio Díaz Sánchez primeiro, de Adolfo Fernández Saínz e Félix Navarro Rodríguez depois, me deixaram um sabor agridoce dificil de explicar. Apesar do férreo controle sobre nós, os presos políticos e de consciência mantinhamos uma comunicação fluida, burlando o assédio dos militares. Agora só ficamos Pedro Argüelles Morán e eu, o futuro de ambos é incerto, porém seja qual for o destino de cada um, será dificil - muito dificil - voltar a ter um time como o que formamos neste cárcere provincial de Canaleta em Ciego de Ávila. Não duvido que em outras prisões aconteça o mesmo, porém nossa camaradagem nos permitiu sobreviver e nos protegermos.

Estes foram meus amigos durante longos sete anos: Tony, indomável e incomparável na hora de buscar iniciativas; Félix Navarro, único por sua inteligência e equanimidade e impossivel de ser igualado em tolerância de qualquer ideal. Adolfo Fernández Saínz, dono de si mesmo e com um critério de muito peso na hora de tomar uma decisão coletiva. Pedro, contestatário por natureza porém nobre de coração e leitor em potência máxima, apesar da visão prejudicada por uma doença nos olhos. Ninguém pode imaginar a influência que cada um teve sobre mim e quanto me chegaram seus sempre sábios conselhos.

Amanhã pode acontecer qualquer coisa, porém enquanto um só preso político e de consciência ficar em cativeiro, não há nada - absolutamente nada - que celebrar. Além disso se nos guiássemos pelas próprias leis vigentes, muitos deles deveriam estar em regime de segurança mínima ou em liberdade. "Del lobo un pelo" me soa como conformismo. Não duvido que as autoridades cubanas ainda guardam sua última carta na manga. O Ás de ouro, talvez. Mesmo porque nestas alturas do jogo, não acredito que nada disso lhes ajude a ganhar a partida.

Hoje dou mais valor às sábias palavras de Adolfo e Félix: "paciência Pablito, paciência, porém sempre firme pois ante nossos verdugos isso nos dá poder". Não sei quando poderei voltar a ver estes excelentes e dignos homens, cada um deles deixou sua marca no meu coração. Espero que eles também recordem minha frase favorita "cuidem-se, que ainda é muito o que devemos e podemos fazer por Cuba".

Pablo Pacheco

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Um comentário:

  1. adoro ler seus textos, sempre tão cheios de vida paesar da situação em q se encontra...
    eu daqui do Brasil, só posso torcer para que os presos de consciência sejam libertos, e especialmente por vc, que em parece q apesar de estar privado de seu bem tão valioso, a liberdade, mantem-se vivo !!resistência e força sempre!!

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