quarta-feira, 2 de junho de 2010

Eleições sem opções


“Prison Lock”- por Ken Powers

Nós, cubanos nascidos depois de 1952, temos um conceito superficial de democracia. Primeiro Fulgencio Batista cerceou os direitos fundamentais dos cubanos, levando a nação à uma letargia política e à cifras impressionantes de mortos segundo arquivos da época.

Batista, como ocorre quase sempre, abandonou o barco a ponto de submergir, deixando as portas abertas para um sistema de partido político único e liderado primeiro por Fidel Castro Ruz e Raúl Castro, seu irmão, depois. Não posso opinar com profundidade sobre a concepção da democracia; corro o risco de parecer um músico de orelhada.

No próximo 25 de abril o povo cubano terá a responsabilidade de definir o futuro. Os colégios eleitorais abrirão cedo nas eleições sem opções. Com certeza, em Cuba, não se necessita de uma fortuna para poder representar o povo. Claro, não devemos nos enganar; este mecanismo "democrático" assemelha-se ao da era dos imperadores com seus privilégios bem definidos e abuso do direito aos direitos.

O mundo se globalizou: os golpes de estado são menos frequentes e os sistemas ditatoriais perderam terreno ante as ânsias de liberdade da humanidade. Discordo de quem pensa que não se deve fazer nada para mudar as coisas. Temos que fazer muito por Cuba e por nós mesmos. Olhemo-nos por dentro. A consciência, longe de nos sussurar no ouvido, nos grita a viva voz: "não podemos deixar este legado para nossos descendentes, não é justo".

A política é parecida com o comércio, o que se arrisca triunfa com facilidade, inclusive margeando o limite da cordura. Vê-se a competição entre o real e o possivel. As vezes penso, quando vejo a propaganda governamental, que quem governa neste país não pode se divorciar do poder. É tão ridículo acreditar que aqui está tudo bem porque a educação e a saúde são gratuitas, e não me parece tão gratuito, porém supondo que seja assim, é difícil compreender que não viveremos estudando ou num hospital toda a vida, a mercê de bons médicos; a maioria deles está pensando na missão em terras estranhas para poder comprar equipamentos eletrodomésticos e um automóvel, possivelmente.

Tenho a certeza que ao terminarem as votações, as autoridades publicarão mais de 90% de participação. Tampouco duvido que a qualquer momento seja superada a demência de Saddam Hussein, que numa oportunidade assegurou que seu partido conseguiu 100% num sufrágio.

Nestes momentos existe uma crise preocupante. Tomar consciência da responsabilidade que cada qual tem pode nos dar frutos com que nos alimentemos amanhã. As eleições serão história em pouco tempo. Também o prato vazio na nossa mesa nos dirá se fizemos o correto ou não. Ninguém, absolutamente ninguém pode estar feliz e conformado com a barriga vazia e a mente preocupada com tanta miséria.

Pablo Pacheco Ávila, prisioneiro de consciência.

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