quarta-feira, 2 de junho de 2010

O inevitável



Ocorreu o inevitável. A igreja católica cubana aceitou intermediar entre o poder do lobo feroz e as serenas e indomáveis Damas de Branco, segundo fontes confiáveis e nenhuma oficial, todavia todos sabemos que não existe novidade ante o conhecido e sutil silêncio das autoridades de Havana.

O cardeal e representante máximo do vaticano em Cuba, Jaime Ortega Alamino, entrevistou-se com um grupo das Damas de Branco. Entre as participantes sobressaem os nomes de: Berta Soler, Laura Pollán, Julia Núñez, Laura Labrada e Alejandría García de la Riva.

Não é segredo o espaço que estas mulheres ganharam, que nem o ódio, a intolerância e a brutalidade fizeram ceder. Inclusive desnudaram o destino das suas próprias vidas ao reclamarem a liberdade dos seus seres queridos, no cativeiro desde há mais de 7 anos por motivo de consciência.

Analizando a situação de perfis diferentes salta aos olhos a conclusão mais evidente; um grupo de mulheres pacíficas deu um xeque-mate nos donos absolutos do poder, por meio século, na ilha. A igreja católica merece, na minha opinião, os aplausos e o reconhecimento dos que amam este país, dos presos políticos e de consciência, dos jornalistas independentes e da oposição em geral, o mesmo da diáspora, sem excluir os mais fiéis seguidores do regime.

A partir de agora é impredizível qualquer rumo que a nação cubana tome. Confio na boa vonta de dos católicos e não descarto a possibilidade de fazerem parte do protagonismo maior na futura reconciliação nacional. Cuba não é o primeiro nem o único país em que a igreja católica serve de mediadora. Recordemos os governos comunistas da Europa do Leste, em especial Polonia; uma época em que o Papa era polaco. João Paulo II se converteu na figura determinante da mudança. Também é óbvio o poder da dissidência nos países comunistas. Desse modo a idiossincrasia e a mentalidade do velho continente influiram quanto as liberdades do ser humano.

Não duvido da possível linguagem agressiva de setores minoritários, dentro e fora de Cuba, contra a igreja católica. É normal, eles tem o direito de opinar. Não ignoro o papel silencioso dos católicos, porém tenho presente a verdadeira função das religiões, evitando uma confrontação com o governo que cedo ou tarde levaria à consequencias improdutivas.

Hoje dormirei mais tranquilo. As Damas de Branco desfilaram pela 5a avenida sem o assédio macabro das turbas fanáticas. Põe-se a descoberto a responsabilidade do governo em convocar multidões raivosas, cheias de ódio e maldade para com suas próprias filhas, tornando óbvio o pensamento inteligente de José Martí ao considerar que a pátria é de todos.

Pablo Pacheco Ávila, prisioneiro de consciência.

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