quarta-feira, 9 de junho de 2010

Obrigado Nova Iorque

Bravo! Extraordinário diria eu. As casualidades não estão escritas, de qualquer forma a acolhida dada pelos novaiorquinos aos artistas cubanos Alicia Alonso e Silvio Rodríguez - quase que simultâneamente - demonstram uma vez mais que as relações entre ambas as nações podem dar um salto e que o conflito de hoje pode ser superado pela história. Não sou nem um pouco idiota e consciente do vai e vem que deu como fruto um clima negativo entre ambas as nações, especialmente nos últimos 50 anos e pelo que, os que chegamos nessa idade, não temos culpa. Falo dos de lá e dos de cá. Indubitávelmente o restabelecimento das relações entre Cuba e seu vizinho do Norte significa para os cubanos algo mais do que sonhar e defender.

Tenho o pressentimento que as palavras de Alicia Alonso publicadas na imprensa oficial denotam que a homenagem prestada em Nova Iorque supera a que nós que ainda vivemos aqui temos dado. Alicia, te admiro, apesar de eu ser um tanto ignorante dos detalhes do ballet, porém valorizo altamente essa dança que tu levas por dentro e que te identifica como uma exímia figura também além das nossas fronteiras. Se alguma vez atacastes o que defendo e tens ofendido a causa que me levou para a prisão, esqueça. Também te respeito nisso e aceito. Pois trata-se de um direito que eu seria incapaz de lhe vedar. Obrigado senhora! Sempre estarei muito feliz por tua arte se derramar sobre esta Ilha e nos cenários de todo o mundo.

Estamos ao par também da viagem de Silvio Rodríguez. Que ninguém pense que por este trovador se indentificar com o governo cubano o deixei em segundo plano. Muitos coincidirão comigo no reconhecimento do seu valor artístico e seus inegáveis dotes de compositor. O público da cidade que não dorme demonstrou para Silvio que cultura e política, para eles, torna-se uma arma de dois gumes. No caso de não se usar com honestidade pode terminar indo contra qualquer boa intenção. Aplaudiram-lhe, elogiaram-no, cantaram com ele e respeitaram, inclusive, as notas que dedicou aos 5 homens presos nos Estados Unidos e que ele considera heróis.

Silvio, não posso nem devo deixar de recordar-te que apesar de ser fanático por tuas canções - nas quas as vezes você diz muito ou não dizes nada - mesmo assim te compreendo e sigo teus temas, em 25 de janeiro de 2008 fui privado de desfrutar do concerto que ofereceste, junto a outros artistas, na prisão provincial de Canaleta em Ciego de Ávila. Sabes porque Silvio? Por ser um preso político e de consciência não fui permitido sair da minha cela para te escutar, pelas autoridades da penitenciária. Não quero te ocultar. Aprecio muito teu talento e admiro tua criação poética. Muito certo quisestes dizer ao manifestar que há que se eliminar o "r" de Revolução. Os anos querem te converter num ser inconsequente? Ou num arrivista que nada para onde a corrente leva?

Ao povo de Nova Iorque obrigado, muito obrigado pela sua amabilidade com Alicia e Silvio. Hoje posso chorar de felicidade, não de tristeza como fiz naqule fatídico 11 de setembro de 2001 ao serem derrubadas as torres gêmeas por um terrivel atentado terrorista. Quando o ódio, o fanatismo e o erro ceifaram a vida de muitos dos seus compatriotas. Obrigado, sim, obrigado de coração pela gentileza com esses dois cubanos.

Pablo Pacheco Ávila

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