terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A educação: Instrumento de dominação ideológica


Imagem: A vendedora de flores (1942) - Diego Rivera

Por Adolfo Fernández Sainz, prisioneiro de consciência da Primavera Negra de 2003

O esforço realizado e os sucessos obtidos pelo governo revolucionário em matéria de educação tem sido em todos esses anos um dos cavalos de batalha da propaganda castrista. Se nos atermos aos números friamente, por exemplo, o número de graduados nas diferentes carreiras, é certo que o avanço da educação em Cuba não poderia ser comparado com nenhum outro país. Porém a realidade do povo cubano mostra facetas muito negativas que não aparecem na versão oficial.

A escola cubana da época pré-revolucionária era um verdadeiro orgulho da nação, a qualidade do magistério era excelente, o professor cubano era remunerado e respeitado por toda a sociedade, um herdeiro digno de Varela, Caballero e Mendive. Quando eu era pequeno ouvia os maiores falarem, sempre se referiam aos seus professores com grande admiração e não recordo de nenhum caso em contrário. É muito sabido que na imprensa oficialista cubana nunca se elogia aqueles. Haviam escolas públicas gratuitas e algumas escolas particulares; também há que se dizer que haviam regiões do país nas quais um menino tinha que caminhar longas distâncias para freuqentar uma escola rural modesta, porém ante esses alunos, por humildes que fossem, havia um bom professor. Agora se insiste que na atualidade há aulas com um professor para um aluno somente em regiões muito distantes, ainda que não me conste, não há que se duvidar que tal caso possa existir. Porém na maioria das aulas cubanas, assistidas por milhões de escolares, o professor pode ser improvisado, imaturo, inculto, sem conhecimentos específicos, grosseiro, deformador de condutas e imoral inclusive. Com tais professores o processo educacional poderá apenas ser digno de tal nome.

Como retrocedemos tanto? Como se perdeu tanta qualidade num terreno tão fundamental para o futuro da nação? Também há que se reconhecer que, apesar de tudo, sempre houve professores dispostos a levar o pão do ensino aos seus alunos, porém são a exceção. No meu povoado havia uma escola pública primária, excelento com certeza, com magníficos professores formadores de bons cidadãos e uma academia particular que chegava ao que hoje seria o nono grau. Para continuar os estudos formais havia que se mudar para a cidade pólo, Pinar del Rio. As famílias pobres, fazendo um grande esforço, mandavam seus filhos à Escola de Comércio que formava contadores, ou à Normal onde se estudava para ser professor. Porém muitos não podiam. Uma das grandes aspirações das famílias pobres era que seus filhos pudessem estudar. Depois da revolução de 1959 a primeira impressão geral do povo era que havia uma grande ansia de superação, um notavel desejo de aprender. Se antes uma grande parte dos alunos tinham que se conformar com terminar o sexto grau ou no máximo o nono, agora os jovens aspiravam o bacharelato e a universidade. Se antes nem todos podiam pensar em estudos superiores pelo preço de ir viver numa cidade longínqua, agora qualquer um podia obter uma bolsa gratuita e continuar os estudos até graduar-se na universidade. Isso foi um grande benefício indiscutivel para a família cubana. O entusiasmo reinava no povo.

Porém junto a estas medidas positivas que beneficiaram sobretudo os pobres e que representaram um grande alento para todos não tardou muito em se realizar a expropriação das escolas privadas. Da noite para o dia todas as escolas passaram para as mãos do estado. Isto foi, em primeiro lugar, uma grande injustiça. As escolas privadas haviam realizado um excelente trabalho educativo, algumas eram notáveis por sua altíssima qualidade e seus donos não mereciam por nenhum motivo perder suas propriedades legítimas. Produziu-se um grande descontentamento, as igrejas clamaram aos céus, há que se dizer que algumas das melhores escolas particulares pertenciam a Igrejas. aquilo foi uma declaração de guerra e um grande aviso para toda a sociedade de que o comunismo não se conformava em possuir a esfera material. Agora o estado tinha em suas mãos todos os meninos e iria se encarregar de sua educação.

Os defensores do castro-comunismo poderão dizer que com a estatização da escola particular se corrigiu uma grave desigualdade. Certo é que os mais pobres não podiam aspirar as escolas particulares, porém haviam escolas gratuitas. Em todo o caso o que se devia fazer era melhorar a escola pública que já era boa e levá-la aos rincões mais distantes e pô-la no nivel das melhores escolas particulares. Este processo foi chamado "nacionalização do ensino" porém este nome é enganoso porque em Cuba o ensino já era nacional. Este foi um importante fortalecimento do poder totalitário, uma operação de domínio ideológico. Os marxistas, peritos neste tipo de justificativa, dirão que em todas as sociedades a classe dominante se encarrega de educar os meninos na sua conveniência, porém eu creio numa lei, como a que sempre tivemos, que permita que os pais sejam os que decidem o tipo de educação que desejam para seus filhos, se querem enviá-los à uma escola católica ou leiga, particular ou pública, ou ensinarem-lhes eles mesmos, que todas as possibilidaes existam segundo a lei.

Com este pacotaço o comunismo nos tirou um grande direito e o disfarçou de eliminação de uma injustiça. No contexto das medidas anteriores muito populares e benéficas se produziu esta expropriação que afetou diretamente as famílias com mais posses, com o consequente enfrentamento entre pobres e ricos, alentado da tribuna pelo governo. Desde então o ensino em Cuba tem sido gratuito, obrigatório, com escolas especiais para os diferentes tipos de menos valia, porém também tem sido uma constante que a escola cubana lhes tem servido como veículo para o doutrinamento das novas gerações, nas idéias mais radicais, a sua conveniência.

Este processo foi sem dúvida uma advertência para muitas famílias cubanas de que havia chegado a hora de enfrentar as ideias da horda que havia tomado o poder e marchar pelo país, ou pelo menos ir pensando em tirar seus filhos de algum modo. O enfrentamento entre ricos e pobres, além de doloroso, foi deliberadamente provocado. Em nossa nação,desde que nascíamos, nos inculcavam que nossa opção devia ser a favor dos pobres. Desde Jesus Cristo até José Martí, todos os grandes forjadores de nossa cultura falaram sobre esse mesmo tema. Para o cubano em nenhum momento foi difícil apoiar as medidas que podiam beneficiar os mais humildes, porém neste caso tratou-se da clara usurpação de um direito especialmente sensível para a família: dizer o tipo de ideal em que se vai educar os filhos. Para beneficiar os pobres do mundo não há que se suprimir as liberdades de ninguém.

Adolfo Fernández Sainz, prisioneiro de consciência, prisão de Canaleta, Ciego de Ávila.

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