quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A educação: Instrumento de dominação ideológica (terceira parte)


Imagem: A vendedora de flores - Diego Rivera (1949)

Por Adolfo Fernández Saínz, Prisioneiro político cubano, Prisão de Canaleta em Ciego de Ávila.

A ESBE foi altamente valorizada quando surgiu, decorrente de uma ideia do próprio Fidel Castro, o qual manteve sua influência direta e cotidiana sobre o novo projeto que nascia. Isto significava apoio ilimitado dos níveis centrais do Estado, abundância de bens e recursos em tudo o que fosse necessário. A ESBE foi um "plano Fidel", um dos tantos e tão famosos que este - com o mesmo modus operandi - tentou desenvolver ao longo de todos estes anos nos mais diferentes campos da vida nacional e naqueles setores que despertaram seu interêsse. Da agricultura ao esporte, da saúde pública à genética bovina. Sob um dos seus arranques cíclicos foi que se criaram as escolas no campo.

Construiram-se então umas poucas escolas com as melhores condições, em lugares adequados, como a chamada "Serra da água" nas cercanias de Havana. Os cursos começaram com alunos muito bons e não tinham caráter obrigatório e com matrícula voluntária. Os internos eram alunos que já haviam terminado o nono grau e que tinham ao seu alcance os melhores recursos e um pessoal muito capacitado que se ocupava da sua educação. Junto aos excelentes professores, contavam também com uma alimentação boa e balanceada e como era de se esperar - em princípio - nestas escolas se dava uma boa atenção ao trabalho no campo. Haviam designado um médico e uma enfermeira para cada um destes centros escolares, para isto se fez uma convocação voluntária para buscar profissionais com as condições necessárias para este tipo de projeto. Com todos estes elementos, se percebia uma grande motivação por parte dos pais e dos alunos pela formação nestas escolas.

Como era do interêsse do dirigente máximo, tampouco podiam faltar os quadros do partido que velavam pelo bom funcionamento destes novos centros. Mesmo o Comandante em Chefe podia aparecer em qualquer momento para comprovar a marcha do seu projeto. Inclusive organizou-se um congresso inaugural com sua presença e com o pessoal participante do novo modelo educativo que surgia. Quando começaram a colher os magníficos resultados iniciais, vieram também os elogios e as reportagens triunfalistas. O plano piloto havia tido sucesso e agora só bastava generalizar a ideia, mesmo que, lamentavelmente, sem a maioria dos ingredientes que deram forma aos seus primeiros passos.

Finalmente o povo recebeu a ideia, já degradada. As ESBE foram usadas inclusive como vitrina para as visitas de chefes de estado. Começa então um desfile de personalidades que se manifestavam entusiasmadas pela novidade educativa destes centros. No princípio podia-se ver soviéticos e checoeslovacos ocupando a tribuna nos atos públicos em frente aos estudantes, mais tarde algumas representações de líderes africanos. Conseguiu-se inclusive que dois governantes ocidentais, primeiros ministros do Canadá e Suécia, se interessassem pelo projeto. O cubano comum tem uma imagem totalmente idílica do Canadá, a simples menção do nome do país evocava na mente dos que a escutavam a ideia de "o Yuma (americano), porém sem tanta droga e violência nas ruas". Há que se destacar que durante decênios não apareceu registrado nos meios oficiais da Ilha nenhum distúrbio nesse país frio, nenhuma greve, nem enfrentamento público, nem sequer um protesto contra a segregação racial ou a guerra no Viet Nam e que mostrasse a polícia canadense atropelando manifestantes, cenas recorrentes quando se tratava dos seus vizinhos do sul.

Se o diretor de uma escola cubana no campo escutava que seu centro ia ser apadrinhado pelo Canadá, imediatamente se impregnava de euforia. Deveria-se ver como os estudantes agitavam a bandeirinha branca e vermelha na passagem da caravana presidencial. Outro tanto ocorreu com a bela Suécia cujo primeiro ministro visitou Cuba e apadrinhou várias ESBEC, daí surgiram precisamente as escolas Cuba-Canadá e Cuba-Suécia. Não duvido que Pierre Trudeau e Olof Palme foram grandes personalidades em seus respectivos países e que viajaram para Cuba animados por suas melhores intenções, porém ao vê-los apoiar com tanto entusiasmo um projeto que sabíamos que não era mais do que outro mecanismo na máquina de opressão totalitária que nos estava esmagando, alguém chegaria a acreditar que eles estavam de acordo com todas as outras coisas que ocorriam aqui, apesar de serem representantes de países que desfrutavam de liberdades ausentes em Cuba. Cabe perguntar se não estavam somando seu grande prestígio à causa de Fidel Castro e à sua obra. Talvez a percepção de suas conversações privadas, a portas cerradas, fosse outro,mas o que vazou para o público não dava para entender diferentemente.

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