sexta-feira, 23 de abril de 2010

Surdos e mudos



Não há pior surdo do que quem não quer escutar, tampouco há pior mudo do que quem não quer falar. Este jogo de palavras parece um "trava-línguas" parecido aos que me contava meu mestre preferido Reinaldo Expósito nos meus anos de estudante primário.

O governo cubano em seu afã de frear a campanha acusatória das últimas semanas que se iniciou com o falecimento do preso político e de consciência Orlando Zapata Tamayo em 23 de fevereiro passado, repete vez por outra, intencionalmente, o discurso retórico e infame. É possivel que os responsáveis por tanta desinformação acreditem que vivam em outra galáxia, não é possivel tal ignorância.

O jornal Granma, órgão oficial do partido comunista de Cuba deste 29 de março, volta a mentir da maneira mais vulgar e decepcionante para quem ama a confibialidade das notícias. Os ideólogos do jornal comunista, responsáveis por aprovar ou não qualquer notícia a ser publicada no diário, insistem na teoria de que uma mentira repetida pode chegar a ser crível; dizendo que Orlando Zapata Tamayo não era mais do que um deliquente comum e não um preso político.

Nestas alturas do jogo reconheço que para mentir se deve ter talento, e com certeza, originalidade. Perdi a conta das vezes em que os porta-vozes e até os dirigentes máximos deste país manifestaram-se no sentido de que em Cuba não existem presos políticos; se esse tema não fosse tão delicado serviria para uma comédia de televisão.

É tão incoerente a atitude agressiva e depreciadora contra uma pessoa morta que a falácia se esvai pelo seu próprio peso. Orlando Zapata Tamayo mais do que um preso político e de consciência é um símbolo que envergonha os que, de uma forma ou de outra, o levaram à uma morte certa. Convido os jornalistas oficiais para investigarem, busquem nos arquivos da polícia política, demonstrem publicando as causas pelas quais Zapata Tamayo foi encarcerado. Não creio que descubram o que tentam encobrir com tanta maldade, tão sórdidamente mal intencionada. Existe a possibilidade de que a consciência os faça chorar de dor e renunciem a um jogo sujo e manipulador por natureza.

Nesta bela ilha existem muitos, muitos presos políticos que, a não ser pela atividade dissidente, jamais teríamos ido à porta de um quartel. Dou graças a Deus por apagar da minha mente a alma de escravo que muitos humanos carregam dentro de si. Cuba precisa com urgência de todos os seus filhos, estejam onde estiverem. É tão degradante não servir a pátria por motivos alheios a vontade do mais medíocre dos homens.

Estes 7 anos de cativeiro me demonstraram que o cárcere não é o fim do mundo. Neste lugar se vivencia quase tudo: baixezas, traições, escárnio, ódios e brutalidade, em certos momentos os verdugos estão mais sujos e corrompidos do que o próprio preso comum. Seguirmos calados não nos redime das culpas. A palavra chave nos tempos que correm é reconciliação. Aquele que ainda mantem um mínimo de lucidez percebe que Cuba não pode continuar isolada do mundo real. A realidade virtual é como ficção científica no cinema: todos, bons e maus, temos o direito universal de amar a pátria sem condições nem rancores.

Pablo Pacheco Ávila, prisioneiro de consciência

Bookmark and Share

2 comentários:

  1. O regime totalitário que vive prega peças em vocês. A inexistência de uma mínima de manifestação de desagrado a ditadura deve ser muito frustrante.

    A morte de Orlando Zapata Tamayo fez acordar o mundo contra o regime dos irmãos Castro.

    Cuba não vai conseguir normalizar suas relações com a Europa, apesar do apoio de muitos esquerdistas do velho continente.

    A falta de clareza dos processos jurídicos em Cuba, tecnicamente impede que Cuba possa passar a imagem de um país honesto.

    ResponderExcluir
  2. oi, eu adorei o texto, e gostaria de saber de onde escreves, ja que esta preso?
    obrigada.
    elis

    ResponderExcluir