segunda-feira, 24 de maio de 2010

Cuba é de todos os cubanos




As vozes dissidentes ao governo cubano se popularizam. O que ontem, e durante muitos anos, foram vozes isoladas, hoje são um murmúrio generalizado; inclusive os que sentem o medo a flor da pele criticam sussurando no ouvido. Chama muito a atenção o fato de se escutar do intelectual até o artista, incluindo-se operários, médicos, camponeses, desportistas, professores, além da juventude sempre rebelde, críticas à grave situação que o país atravessa, percebendo como fator principal o embargo dos Estados Unidos à Ilha como a causa de tantos males, ao extremo de colocarem em perigo as supostas conquistas do governo.

Não se trata de esconder os êxitos, apesar dos altos e baixos terem servido para manter o povo entretido e fiel ao regime. Chegamos a um ponto sem retorno. Analizar nossos problemas sem objetividade nos coloca numa encruzilhada perigosa e impredizível. Não só está em jogo o poder da administração comunista que a duras penas se mantem graças ao poderio militar e o medo de grande parte de nossa sociedade.

A inação consequente pode levar a nação à um estado de ingovernabilidade fatal para as aspirações dos cubanos, e o que é pior, perder a credibilidade de que podemos, sim, avançar e construir uma pátria com todos e para o bem de todos, sonho irrealizado pelo mais ilustre dos cubanos, o apóstolo José Martí.

Na imprensa oficial aparecem artigos narrando a triste realidade de outros países. Todavia aqui, aparentemente, é tudo cor de rosa. Salvo raras exceções não se vêem publicados artigos práticos e verazes sobre a problemática nacional. Na minha opinião o jornal Granma, órgão oficial do partido comunista de Cuba, conta com uma das seções mais abertas dentro dos sistemas informativos oficiais: cartas `a direção. Mostra os critérios de um setor disposto a não calar e aproveitar a menor fissura para expor uma ideia. Devo assinalar que os critérios são pessoais e não refletem necessariamente os pontos de vista do governo de Havana.

Este é o oitavo aniversário em que a intolerância governamental priva um grupo de pessoas de desfrutar da companhia dos seus familiares do sexo feminino e que realizaram o sonho maior de uma mulher: ser mãe. Por fim se sente o fim próximo de um pesadelo, o qual desde o primeiro momento cobriu com o manto da injustiça e da infâmia esta terra, considerada também nossa mãe.

Não devo, não posso finalizar este comentário sem...sic...a dor da família Sigler Amaya por não contar este anos com Gloria, progenitora de uma família fiel aos princípio democráticos. Também Reina Tamayo ocupa um espaço no meu coração. Orlando Zapata Tamayo, seu filho, foi-se fisicamente de nós, porém vive, multiplica-se em cada cubano digno, disposto a se sacrificar pela pátria.

Por último, honra e reconhecimento às Damas de Branco, em especial às mães. É possivel que o elo perdido principal para mudar o destino de Cuba seja a libertação dos presos políticos e de consciência. Ninguém deve temer o futuro quando o presente mostra-se incerto. Queiram ou não alguns, Cuba é de todos os cubanos. Calar implicaria em cumplicidade. No fnal a reconciliação é inevitável.

A paz, a prosperidade e o bem comum respondem a duas palavras, poderosas como o poder de Deus. Se agora mesmo todos apelássemos ao amor e ao diálogo o caminho seria menos escabroso e complicado para o desejo popular. Amanhã pode não existir a possibilidade de nos salvarmos e salvarmos os demais.

Pablo Pacheco Ávila, prisioneiro de consciência.


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