quinta-feira, 27 de maio de 2010

Somos todos cubanos



Hoje recordei do debate televisivo entre Ricardo Alarcón de Quesada, presidente da Assembléia Nacional do Poder Popular do governo cubano e o desaparecido lider da Fundação Nacional Cubano-Americana Jorge Mas Canosa, anos atrás. Seria preciso que o povo cubano dentro da ilha pudesse ter visto e analizado esta troca de opiniões, não foi possivel. A hierarquia de Ricardo Alarcón de Quesada não conta com poder suficiente para escapar da censura.

Ontem a colega Claudia Cadelo me leu o "estranho diálogo", assim é qualificado pelo jornal Granma, órgão oficial do partido comunista de Cuba, entre Silvio Rodriguez e Carlos Alberto Montaner. Silvio Rodríguez, na minha opinião particular, é um dos mais proeminentes cantores-compositores dentro da ilha das últimas cinco décadas. Por seu lado Carlos Alberto Montaner goza do respaldo da diáspora e os leitores dissidentes, além de alguns escorregadios representantes do regime.

Ambos tem o dom de comunicadores e inquestionáveis intelectos. Estes dois homens tem a peculiaridade de contar com seguidores e detratores em ambas as margens, inclusive na civilizada Europa. Silvio gosta de pecar por ingenuidade em certas ocasiões, também por uma obediência sem limites ao regime de Havana; todavia pressinto que o desafio para debate com Montaner tem como motivo a publicidade para seu novo disco.

A confrontação de longas cartas entre estes dois cubanos com perfis opostos enriquece a reconciliação e o futuro de Cuba; esta precisará de tudo e de todos os seus filhos para sair de uma crise que vai mais além da questão econômica. Carlos Alberto Montaner, observador como sempre, desnudou a alma do poeta, apresentou-lhe uma dissertação da crua realidade nacional, aparentemente alheia para Silvio. Montaner inconscientemente menciona os presos políticos e não cita os prisioneiros de consciência, a mancha mais visivel para a terra de José Martí, nestes tempos sem espaços para a ditadura, todavia nem todas desapareceram, para o mal da humanidade.

Não pude suportar o riso nem o bom humor de Silvio ao se referir a excursão, em 2008, por várias prisões junto a outros artistas de aceitação popular. Estou convencido que Silvio não recorda que em cada apresentação pelos cárceres os internos foram escolhidos, privando-se os presos políticos e de consciência de semelhante luxo. Ao menos eu me sentiria merecido num concerto do Silvio.

Carlos Alberto Montaner é um proscrito na Ilha, contudo muitos conhecem sua obra. Nunca faltam os que arriscam a pele por conhecimento. Da correspondência inteligente entre o cantor e o escritor percebi uma transparência e um conhecimento impressionante de Montaner, se tomarmos em conta a ausência física do analista político nos últimos 50 anos da revolução.

Felicito Montaner por sua resposta ao Silvio quando mencionou o abominável ato terrorista de Barbados, onde várias pessoas inocentes perderam a vida, cubanos em sua maioria. Silvio sentiu a espada de Damocles pendente sobre sua cabeça depois de Montaner citar o criminoso acontecimento do rebocador 13 de março, no qual várias pessoas perderam a vida, inclusive meninos, e a derrubada dos pequenos aviões por aviões cubanos de combate, morrendo quatro jovens crioulos residentes nos Estados Unidos.

Sou dos que confiam no diálogo e o respeito alheio. Exorto Silvio que se pronuncie com dignidade, e o mais importante, exponha seu critério pessoal sobre a sufocante e humilhante atitude de turbas fanáticas patrocinadas pela nomenclatura no poder contra mulheres indefesas, repito, mulheres indefesas, que reclamam a liberdade dos seus familiares no cativeiro por motivos de consciência.

Espero que Montaner cumpra com sua palavra relacionada com o embargo dos Estados Unidos à ilha, servindo este de pretexto para todos os males de um sistema econômico escravagista. Sugiro aos dois, encontrem-se com seus colegas e amigos. A partir de agora não podemos descartar o protagonismo de outros cubanos, distantes em ideias porém dignos desta terra. Gostaria de um debate entre Gloria Estefan e Miguel Barnet, ou Willy Chirino contra Fernández Retamar. Enfim, são dessemelhantes os exemplos existentes, porém sobre todas as tendências possiveis devemos ter claro que todos, todos somos cubanos, comprometidos com Cuba e fiéis ao ideário martiniano. Não importa que em ocasiões nossos pontos de vista difiram, respeitando sempre o critério do outro.

Pablo Pacheco Ávila, prisioneiro de consciência.

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