quinta-feira, 15 de julho de 2010

Crônicas de um cárcere cubano


Galeria 43, detonou a reciclagem, disse um preso comum ao coletivo. É do caralho trabalhar com carne e não poder comer uma bisteca, respondeu Charón ao portador da má notícia. Mesmo que não pareça os prisioneiros solidarizam-se uns aos outros sempre que ocorre uma adversidade aos privados de liberdade. Esta crônica pode parecer engraçada porém a realidade é outra.


As autoridades dos estabelecientos penitenciários determinaram, nos princípios deste ano, a seleção de uma boa quantidade de internos para trabalharem na fábrica contígua a prisão provincial de Canaletas em Ciego de Ávila. Tudo indica que frente a iminente visita de alto escalão em nivel nacional, possivelmente de algum nivel global, especialmente da Organização das Nações Unidas, disfarçam a realidade cruel deste centro penitenciário. Na citada fábrica são produzidos diversas especialidades, sobressaindo a carpintaria, tijolos, jarros plásticos e reciclagem de roupa.

Em outras ocasiões escrevi sobre as anomalias no salário dos presos, ainda que hoje me refira a quem trabalha em reciclagem e segundo eles há quem tenha recebido 300 pesos em moeda nacional, 12 CUCs ao mes. Em todo este tempo os homens que trabalham na reciclagem foram descobertos ao tirarem roupas de marcas conhecidas. Depois dos privados de liberdade serem supreendidos em flagrante, são expulsos dos seus postos. O preso é preso.

Em mais de uma ocasião ouvi piadas sobre reciclagem. Trabalhadores civis e algum outro militar podem roubar pela esquerda. São surpreendidos e tudo fica em casa. Aí mora o nó do problema. Não acredito que seja dificil vender aos presos algumas das prendas que eles mesmo selecionam para depois venderem nas lojas arrecadadoras de divisas. O cativo deve ser incentivado a comprar com o salário modesto que recebe, indumentárias que passam vez por outra pelas suas mãos. É dificil, muito dificil trabalhar na merda e não se sujar, alguem manifestou.

Mesmo que na reciclagem não seja o único lugar onde sucedem estas situações, o caso mais lamentável ocorreu em 14 de julho último, quando Henry Veitía Valdivia perdeu uma das suas pernas ao sofrer um severo acidente na concreteira mecânica causado pelas escassas medidas de segurança do local. Este jovem esteve vários dias entre a vida e a morte e se desconhece sua situação de saúde atual. Nada, a canção de Rubén Blades o disse com clareza: "Com o salário que me pagam não vou arriscar a vida que Deus me deu".

Pablo Pacheco, Prisioneiro de consciência
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